sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Metade

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio,

que a morte de tudo que acredito

não me tape os ouvidos e a boca...

pois metade de mim é o que eu grito

e a outra metade é silêncio.


Que a múisca que ouço ao longe

seja linda ainda que tristeza;

que a pessoa que amo,

seja pra sempre amada

mesmo que distante

porque metade de mim é partida,

mas a outra metade é saudade...


Que as palavras que falo

não sejam ouvidas como prece

nem repetidas com fervor...

apenas respeitadas como a única coisa

que resta a um ser inundado de sentimento...

porque metade de mim é o que ouço,

mas a outra metade é o que calo!


Que essa minha vontade de ir embora

se transforme na calma e na paz que eu mereço,

que essa tensão que me corrói por dentro

seja um dia recompensada...

porque metade de mim é o que penso

e a outra metade um vulcão...


Que o medo da solidão se afaste

que o convívio comigo mesmo,
se torne ao menos suportável

que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso

que me lembro ter dado na infância...

porque metade de mim é lembrança do que fui

e a outra metade
não sei...

que não seja preciso mais do que uma simples alegria

pra me fazer aquietar o espírito...

e que o teu silêncio me fale cada vez mais

porque metade de mim é abrigo,

e a outra metade é cansaço...


Que a arte nos aponte uma resposta

mesmo que ela não saiba!

e que nínguém a tente complicar,

porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer

porque metade de mim é platéia

e a outra metade é a canção...


E que minha loucura seja perdoada

porque metade de mim é amor

e a outra metade... também...


(Oswaldo Montenegro)

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