quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Miocardiopatia - Quando uma história de amor não tem um final feliz...


Conheci Anna Beatriz á alguns meses, quando ela me enviou um linda mensagem e um comentário; não sei porque passamos a conversar pelo msn.
Ela estava em um leito de hospital, a espera de um transplante de coração; era casada a pouco mais de 4 anos com o amor de sua infância e tinha apenas 28 anos; estava triste e sentia saudades do marido, todos lhe diziam que ela sairia logo dali; mas ela achava que era mentira.
Eis a sua história:

Ela tinha apenas 6 anos quando viu José Luís pela primeira vez; ele havia se mudado para a casa em frente a sua; garoto diferente, moreno, mais alto que os garotos da rua, cabelos escuros; e o mais importante ele tinha falado bom dia!
Ficou olhando os novos vizinhos com a mudança por algum tempo; então entrou correndo para casa; a mãe havia preparado bolinhos e pasteis de Santa Clara; se encostou na mesa e disparou:
- Mãe temos novos vizinhos! Posso levar uns bolinhos e uns pasteizinhos para eles? já a algum tempo estão a carregar as caixas da mudança...
A mãe lhe sorriu! Fez um prato com as guloseimas e deu na mão da filha.
- Não corra!
Ela não correu, voou até a casa, sua curiosidade era enorme.
Quem lhe atendeu foi José!
- Minha mãe mandou um lanche para vocês!
- Müchas gracias! - ele respondeu. O pai o repreendeu dizendo para que ele não falasse em espanhol com os vizinhos; e ao mesmo tempo a convidou para entrar.
A mãe de José se chamava Rosário (que nome estranho ela pensou), o pai era Antonio. O menino era mais bonito de perto, seus olhos eram tão escuros, tão diferentes... e o mais engraçado a mãe o chamava de Rossé (só mais tarde veio a entender que era o modo de pronunciar o nome dele em espanhol).
Anna: - Eu tinha apenas 6 anos, mas naquele momento sabia que ele era o homem de minha vida!

Ele tinha exatamente 10 anos quando conheceu Anna, estava se mudando para a casa em frente a dela, quando a viu brincando; pequena, cabelos loiros, vestia uma calça azul e uma camiseta toda manchada de barro, os cabelos estavam amarrados numa chiquinha; lhe retribuiu o bom dia, com um sorriso alegre.
Quando ela bateu em sua porta com um prato de guloseimas, ele não sabia o que fazer...
José: - Os olhos dela eram de um profundo azul, ela parecia um anjo, daqueles de santuário; mas também tinha algo de frágil. Daquele dia em diante decidi que a protegeria de qualquer coisa, custasse o que custasse!

Os anos se passaram, eles sempre foram bons amigos; com pouco mais de 18 anos, ela descobriu que o amava... começou a se distanciar com medo dele descobrir, até arrumou um namorado.
Ele estava com 22 anos e era da Força Aérea; um dia ao chegar em casa encontrou-a conversando com um garoto ao portão; quase morreu, seu coração se apertou e ele ficou com ciúmes, sua vontade era de esmurrar o pobre do rapaz; foi o pai que não deixou; aconselhou-o a conversar com ela.
Começaram a namorar em Dezembro de 2000.
Haviam marcado o casamento para Setembro de 2002, mas neste instante as coisas começaram a mudar. Anna até então sempre saudável, começou a sentir dores no peito, palpitações e falta de ar, todos achavam que era por causa da expectativa do casamento; mas ela foi internada pela primeira vez faltando apenas um mês para a festa, tudo foi desmarcado; o médico diagnosticou Miocardiopatia*, ainda não sabia que tipo era, mas era isso mesmo. Ela não poderia sofrer grandes esforços, seu coração não aguentaria.
A doença foi controlada e eles se casaram no final de 2004, com recomendações médicas para que ela não engravidasse, o médico temia o parto. Ele saiu da Força Aérea e foi trabalhar na aviação comercial.
Tudo estava bem, ela tinha algumas crises, mas nada grave; até Fevereiro deste ano; Anna teve uma arritmia muito forte, chegou ao hospital em estado grave; foi-lhe recomendado internar para tratamento e foi diagnosticado a necessidade de um transplante, caso contrário morreria.
José acabou dobrando as viagens para mantê-la no hospital, deu a ela um notebook, para que pudessem se ver todos os dias. Sentia saudades da mulher mas era preciso.”

E assim ela me achou, e aos poucos foi me contando um pouco da sua história; depois que publiquei “Só o amor é real”, ela me pediu que baseada nas coisas que me contava que escrevesse um poema para ele, algo que mostrasse o quando ela o amava, o quanto sentia a sua falta, das suas dores e da sua esperança...
Escrevi Contradições de um Coração; mandei para ela ler e aprovar; não recebi resposta até dia 30 de Julho. Neste dia ao abrir meu email, havia uma mensagem de José:

“ Querida borboleta,

Nos últimos meses nós aprendemos a navegar em tuas asas; e Anna descobriu em ti, uma pessoa muito querida, que passavas horas a teclar.
Nestes últimos dias ela passou muito mal, teve que ir para o CTI. Ficou monitorada e assistida por dias. Infelizmente não resistiu, e nos deixou.
Deixou principalmente a mim, perdido e desolado; estava a voar e sua mãe havia ido até a casa buscar algumas coisas; o hospital estava de prontidão, pois tínhamos um doador; ela teve uma arritmia muito intensa e morreu; Anna morreu sozinha no hospital e isso era o que ela mais temia; NUNCA irei me perdoar, não sei como viverei sem ela;

O poema que escrevestes é lindo, li e reli por horas, nele senti e ouvi a voz dela, capitaste tão intensamente os sentimentos que lhe iam ao coração; não percebi a tristeza de minha amada, achei que estava fazendo o melhor; tem minha autorização para publicar, (se assim o achares conveniente) ela adoraria.”

(aqui me reservo o direito de omitir algumas declarações pessoais dele)


Anna morreu dia 25/07/2009, poucas horas antes do transplante!

(Kássya 06/08/2009)

*Miocardiopatia = Literalmente quer dizer doença do músculo do coração é a deterioração da função do miocárdio (o músculo do coração) por alguma razão. Pessoas com miocardiopatia estão sempre sofrendo o risco de uma arritmia ou morte cardíaca súbita ou ambos. São incapazes de bombear um volume de sangue suficiente que supra as demandas do organismo e acarretam a insuficiência cardíaca. (Wikipédia)

*“Cerca de 70% das pessoas com miocardiopatia morre nos cinco anos subsequentes ao início dos sintomas e o prognóstico piora à medida que as paredes cardíacas tornam-se mais delgadas e a função cardíaca diminui.
Medidas que auxiliam a reduzir a tensão sobre o coração incluem o repouso e o sono suficientes e a redução do estresse.
...No entanto, a menos que a causa da miocardiopatia possa ser tratada, é provável que a insuficiência cardíaca acarrete a morte do paciente. Devido a esse prognóstico sombrio, a miocardiopatia é a indicação mais comum para a realização de um transplante cardíaco.” (*Merck Sharp & Dohme)

Um comentário:

Anônimo disse...

Não tenho palavras, simplesmente .....
forte, comovente, e triste.
antonio ferreira
voarnopensamento.blogspot.com