terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sonetos que não são... Aflição de ser

Aflição de ser eu e não ser a outra.
Aflição de não ser amor,
aquela que filhos te deu, ou casou donzela
E à noite se prepara e te adivinha...
Aflição de não ser

Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera  se avizinha.)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se me ausento ou se te espero...
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

(Hilda Hilst - *1930- **2004 - escritora, poeta e dramaturga)
(Soneto do livro Roteiro do Silêncio 1959)

Um comentário:

Anônimo disse...

É essa afliçao, que faz com que tu sejas sempre amorosa, porque te faz lutadora, empenhada, e nunca rotinada nas questoes de amor....
nao é mau ter essas afliçoes....
Sao elas a razao do teu amor.
bjs
antonio ferreira
voarnopensamento