domingo, 4 de julho de 2010

Uma Guerreira chamada Cristina...

Cristina...
Fomos criadas a poucos metros de distância uma da outra, estudamos na mesma escola, tivemos os mesmos professores. Mas nunca fomos amigas ou mesmo colegas; mas o destino nos reuniu por algum motivo.
Ela é um pouco mais velha do que eu.
Terminou o ginásio, completou o colégio, se formou em duas faculdades, se tornou pedagoga graduada e bem conceituada na área de ensino infantil. Eu terminei o colégio, me casei, tive filhos, trabalhei em muitas empresas, até o dia que resolvi trabalhar por conta própria e tirei da gaveta os cursos que havia feito na área de beleza.

Um dia recebi um telefonema de uma amiga me pedindo para  fazer-lhe um favor, que  atendesse  a Cristina, porque ela havia sido discriminada em um salão de beleza e estava muito triste.
Ao atendê-la descobri que no salão em questão, a haviam chamado de deficiente mental; o que garanto a todos os meus leitores ela não é.

Cristina tem hoje 50 anos, e a 15 briga com uma doença  chamada Esclerose Múltipla G35, a doença se manifestou aos 35 anos, e no começo foi confundida com um AVC; ela foi internada, ficou na UTI, andou de cadeira de rodas, os médicos deram uma previsão de vida de uns 7 anos; mas sua garra e vontade de vencer a fizeram lutar com unhas e dentes para que o prognóstico fosse errático. Saiu da cadeira de rodas, andou de muletas, depois passou a usar uma bengala para o apoio (rsrs... a Marilu).
Ela toma medicamentos que exigem certa coragem, injeções que devem ser aplicadas todos os dias, cada dia em um local diferente pois são muito doloridas, também toma mais uma quantidade de comprimidos, anticoagulantes, remédios para dor muscular, etc... está trocando a Marilu por um andador de quatro apoios que ela o apelidou de "Serra",... rsrsrs... não me perguntem, não sei o porque  do nome!
A doença em questão vai corrompendo as células que regulam a coordenação motora, fazendo que aos poucos, conforme o tempo passa, ela perca os movimentos das pernas e dos braços, tenha dificuldade para andar e até falar; mas Cristina tem um cérebro fantástico, lembra-se de coisas nos mínimos detalhes, apesar de as vezes não conseguir expressa-las com clareza; talves por isso as vezes as pessoas acharem que ela tem algum tipo de deficiência mental.

Criamos uma amizade sincera, e aprendi com ela, que a vida é mais do que apenas andar e falar...
a vida é o que queremos que ela seja, que nós podemos fazer de nossa vida mais do que as pessoas pensam ou esperam de nós, que somos senhoras do nosso destino. Que apesar do que dizem os prognósticos, não precisamos aceitar e  podemos ir contra ele e fazer a nossa história...
Ela se recusa a deixar que a doença a vença.
E com isso a doença ainda não a debilitou totalmente, ela esta sempre procurando atividades para que os músculos e o cérebro não definhem, faz teatro, dança, natação, lê muito...
Na maioria das vezes vai as consultas médicas sozinha, sem que ninguém a acompanhe; eu já a acompanhei algumas vezes para um exame ou outro, que ela necessitava de companhia; pode ser bobeira, mas o orgulho dela é o maior responsável por seu estado de saúde; segundo os médicos que a acompanham ela já deveria estar entravada em uma cadeira de rodas definitiva, sem ter movimentos de pernas, braços e com o pensamento sem nenhuma conexão com a realidade.

Cristina continua guerreando com a Esclerose Múltipla, pois a doença está avançando rapidamente;
devido a isso seus movimentos estão cada vez mais difíceis, esta semana ela perdeu o equilíbrio e caiu, machucou as costas, as pernas, todo o seu lado direito ficou roxo e escoriado; ninguém a ajudou por acharem que ela é deficiente; ela foi socorrida e levada ao Hospital das Clínicas, por um policial do terminal de onibus que a conhece e a sua história; agora será submetida a vários exames, que sei são lhe dolorosos, para saber em que estágio esta a doença. Infelizmente a doença ainda não tem cura, os médicos não sabem o porque ela acontece, nem quando se manifesta, a única coisa que sabem é que se pode retardar os efeitos dela no cérebro e músculos, e controlar o espaço entre os surtos (quanto maior o espaço, melhor para os pacientes). As pessoas que sofrem de Esclerose Múltipla, tem surtos da doença, e quando isso acontece elas passam alguns dias de cama, sem poder se movimentar por falta de força muscular, trocam palavras e não conseguem se comunicar perfeitamente, também tem dores agudas em todos os músculos e ficam com os movimentos travados, quando os surtos passam elas recuperam os movimentos e a lógica; mas estes mesmos surtos causam-lhes perdas sérias da musculatura e dos neurônios.

Os médicos acham que Cristina precisará da cadeira de rodas, o que fará que ela fique restrita ao espaço de casa, pois não tem companhia que possa ajudá-la; ela ainda se recusa a aceitar tal fase...
muitos dos companheiros de tratamento já se foram desta vida, devido ao avanço e as complicações da doença...

Ela sabe que está perdendo... mas não desiste; quer vencer a doença e sair vitoriosa.

Kássya 04/07/2010

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